Balabanner

PAMONHA

Por Professor José Luiz em 19/02/2021 às 10:09:01

O tempo anda corrido demais. Ninguém tem tempo para mais nada, apenas há espaço para os conturbados afazeres diários. São centenas de compromissos e tarefas com data e hora certa para terminar. As famílias pouco se reúnem para confabular, trocar uns dedos de prosa, jogar conversa fora, apascentar os espíritos. O mundo passa por um processo de contravalor, em que não são priorizados os encontros em torno de uma mesa onde se pode celebrar a união. Muitas vezes, trocam a companhia dos familiares para manter contato com os atores de novelas e reallity shows. Reunir o clã inteiro para preparar uma saborosa pamonha, então... nem pensar. Muitos dirão que isto ocupa tempo demais. Louvo os teimosos que insistem nestes velhos e saborosos hábitos e ajuntam todo mundo numa causa toda particular, familiar.

Como é preciosa a família que ainda dá um jeito de inventar uma oportunidade para confeccionar estes deliciosos embrulhos de palha. Começa pelo plantio, pelo cuidar da planta, passa pela quebra do milho. Depois vem o corte das espigas, a seleção das palhas, a retirada dos cabelinhos difíceis que a criançada adora ajudar, uns até se especializaram com magníficas ferramentas adaptadas denominadas escovas dentais. É infalível. Aí vem a etapa mais difícil: ralar o milho. Depois, tempera-se ao gosto da maioria: com linguiça, com jiló, com queijo, com ou sem pimenta, com o que a imaginação permitir, afinal a pamonha é toda sua. As doces são mais mimosas e não costumam aventurar muito em seus recheios. Agora é só esperar. Depois de colocadas em enormes panelas de alumínio batido, as aromáticas pamonhas saem fumegantes aguardando os impacientes comilões.
O mais rico em tudo isso certamente não é a pamonha. Isto é apenas pretexto para que os familiares, compadres e amigos estabeleçam e reforcem seus laços, sua comunhão. Não temos o direito de "despamonhalizar" o mundo, como diria o filósofo Mário Sérgio Cortella. Momentos assim preenchem de sentido toda a existência familiar. Deixamos os celulares um pouco de lado e os grandes problemas que cada um carrega diluem-se nesta parada mágica e estratégica. É um manifesto de amor, um grito pela preservação dos valores da família, que faz gestar sentimentos maravilhosos dentro de nós. Que sejamos defensores dos combalidos ideais de união e reciprocidade que a instituição família ainda representa.

Por mais que a composição familiar esteja diferente neste século, em que pais e padrastos, mães e madrastas, precisam se articular cada vez mais para dar uma educação com a menor incidência de traumas possível para as crianças, ainda é possível acreditar numa prazerosa pamonhalização da sociedade.
É isso aí!
Comunicar erro