Balabanner

COLORADO RQ

Professor José Luiz

Por Fala, Professor! em 27/09/2021 às 09:33:03

Vi meu pai chegando com uma caixa enorme. Bem cabiam uns dois de mim. Tirou lá de dentro um aparelho grande, uma caixa com um vidro na frente, bem pesado. Ele disse em alto tom, como já era de costume, que tinha adquirido uma televisão. Colorado RQ era a marca do trambolho e possuía na frente um seletor que fazia um barulhinho gostoso ao mudar de canal. Poucas casas, ali no início dos anos 1970, tinham o privilégio de ter instalada uma TV na sala. No mesmo dia, um homem foi instalar a antena para captar o sinal que nos permitiria assistir aos filmes e às novelas que tanto minha mãe falava. Um cano de metal bem alto. Lá na ponta, um emaranhado de tubinhos de alumínio, com fio achatado que chegava até o aparelho.
O homem, no alto de seus conhecimentos televisivos, disse que era para deixar a antena virada para o rumo das cidades de Fronteira e São José Rio Preto, pois iríamos pegar os melhores programas no Canal 8, com muitos filmes de faroeste e boas novelas. Fiquei todo contente esperando o que apareceria naquele tubo espetaculoso à minha frente. E o milagre se deu com o aparecimento da imagem. Lembro que era uma cena onde passava um cowboy montado em belo cavalo, com uma arma do lado e voz de trovão. Fiquei embasbacado, sem palavras. Estávamos em umas dez pessoas na sala naquele momento, todos os meninos e os adultos ali na expectativa. Não segurei e perguntei ao montador de antenas, como ele tinha feito para enfiar aqueles "hominhos" dentro da televisão. A risadaria foi geral. O homem, com um olhar carinhoso, respondeu que ele era um mágico e tinha esse poder. Aí, as pessoas riram ainda mais. Eu, sem entender nada direito, caí na risada também.
Foi um dia tão feliz. Passamos o resto da tarde vendo filmes e desenhos animados em preto e branco. E, à noite, percebi minha mãe limpando os olhos marejados assistindo uma cena romântica. Meu pai, homem interessado nas coisas políticas, nas notícias do país, queria mais era assistir os jornais, pois achava que tudo aquilo que estávamos vendo não passava de ilusão e de uma grande "mentiraiada".
O tempo passou e, como privilegiado, pude constatar a evolução da tecnologia, ao longo dos anos. Hoje, já um senhor de cabelos prateados, consigo manusear razoavelmente essas parafernálias e perceber o enorme impacto que isso representou na história da humanidade. Tanta coisa mudou. Um televisor preto e branco já não encanta mais ninguém, quase nada encanta. Aprendendo, crescendo, vivendo...
É isso aí!
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