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ANJOS

Crônica sobre uma experiência hospitalar

Por Fala, Professor! em 20/02/2022 às 18:43:01

anjo

Estava debilitado, com forças escassas e o olhar um pouco embaçado. Aquele ambiente era o último lugar em que eu gostaria de estar. Um movimento intenso. Pessoas indo e voltando. Uns de branco, outros brancos pela convalescência. Pela primeira vez, em mais de meio século, minhas veias recebiam soro. Era preciso. O espírito valente clamava por melhora, não aceitando aquela condição de fragilidade, de total dependência, como se fosse imbatível. Sei que não.

Uma manhã inteira, uma tarde quase cheia. A cura se dá de tantas maneiras. Uma delas, talvez uma das mais eficazes, a palavra boa, o carinho no som de uma voz que traz poderoso fármaco para a alma. Um enfermeiro que incentiva, ouve, conta histórias, sorri, encanta... Uma enfermeira que traz no olhar a bondade de quem se compadece pela dor alheia e não permitiu o sofrimento do semelhante se banalizar em uma vida tão acostumada a tragédias, dores, morte. Ali, em uma enfermaria de um hospital lotado, naquelas horas que demoraram passar, enxerguei beleza na ação das pessoas vocacionadas e consolidei minha fé no ser humano. Que sorte eu tive.

Meus índices metabólicos foram retornando a uma normalidade que me permitiria voltar para casa. A moça de olhar doce e cabelos amarrados cobertos por um touca clara veio retirar o soro e trazer a notícia de que eu estava liberado para ir embora. Ela disse que eu era um homem de sorte e perguntou se poderia levá-la junto, tamanha era a pressão daqueles dias difíceis. Sorri. Ela falou, devolvendo o sorriso, com uma sutileza de quem sabe corrigir um filho rebelde, para que ficasse mais atento à saúde, cuidasse melhor da alimentação e desejou que seguisse em paz, na presença de Deus. Agradeci, acreditando que ia mesmo com Deus, pois anjos não poderiam falhar em seus presságios.

É isso aí!

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