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Novo método detecta vírus do abacaxizeiro

O processo detecta a "doença de murcha" com mais rapidez e economia

Por João Cerino em 26/03/2022 às 14:50:41

A Embrapa patenteou um novo método de detecção de vírus do abacaxi mais rápido e econômico do que os existentes no mercado e a tecnologia, baseada em conhecimentos moleculares, reduziu em um terço o valor do teste e o tempo gasto no trabalho. A princípio, o método deve atrair o interesse de empresas que fabricam kits de diagnóstico, mas, a longo prazo, é esperado que beneficie toda a cadeia produtiva do abacaxi. A Embrapa já vem utilizando o método para detecção de viroses no material genético do Banco de Germoplasma de Abacaxi.

O estudo, feito por cientistas da Embrapa Mandioca e Fruticultura, no estado da Bahia, desenvolveu um método capaz de detectar o complexo de vírus causador da murcha do abacaxizeiro com uso de técnicas de cadeias curtas de moléculas de DNA ou RNA chamadas de primers, que são os oligonucleotídeos. Essa forma de rastrear os microrganismos foi patenteada como invenção em 2021 pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial-INPI e é de grande interesse para a fabricação de kits de diagnóstico por empresas parceiras. Isso pode beneficiar toda a cadeia produtiva do abacaxi, visto que essa é uma das piores ameaças à cultura em nível mundial, ainda sem controle definitivo ou fonte de resistência identificada.

Intitulada "Oligonucleotídeos, uso, método e composição de reação e kit para detecção dos vírus associados à causa da murcha do abacaxizeiro", a patente foi publicada na edição de setembro de 2021 da Revista de Propriedade Industrial. Como todo documento do gênero, existe o prazo de vigência de 20 anos contados da data de depósito ocorrido, em 26 de dezembro de 2012. Os oligonucleotídeos, também chamados de primers, são cadeias curtas de moléculas de DNA ou RNA comumente usados na biologia molecular e na medicina para rastrear doenças e infecções virais e como iniciadores em sequenciamento de DNA.

Eduardo Chumbinho de Andrade, pesquisador do Laboratório de Virologia Vegetal da Embrapa Mandioca e Fruticultura, responsável pelo invento e registro da patente, explica o funcionamento do processo. "A ideia foi desenvolver um teste que detectasse os três vírus da murcha ao mesmo tempo sem, no entanto, discriminar um por um. A intenção é saber quem tem o vírus e quem não tem. Quando se faz a indexação não importa qual vírus esteja presente; o que importa é se a planta está sadia ou infectada."

O pesquisador Francisco Ferraz Laranjeira Barbosa, chefe-adjunto de Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação da Embrapa Mandioca e Fruticultura diz que o estudo é importante. "A murcha do abacaxizeiro é uma doença causada por vírus e transmitida por um inseto. Além de fundamentais para trabalhos de pesquisa, os kits de detecção são muito importantes para garantir a sanidade do material de plantio. A obtenção da patente reforça o caráter inovador das pesquisas realizadas pela Embrapa Mandioca e Fruticultura."

O método, que reduz em um terço o valor do teste e tempo de trabalho para demonstrar a presença ou não de uma virose em uma planta é realizado em laboratório antes de o material ser multiplicado, garantido a sanidade das mudas. Na Embrapa Mandioca e Fruticultura, a detecção da presença do DNA/RNA viral é feita pela técnica da reação em cadeia da polimerase (PCR) em tempo real (RT-qPCR), a mesma utilizada no chamado "teste-ouro" para detecção do novo coronavírus e de tantas outras doenças causadas por vírus em humanos.

Segundo Andrade, a murcha é causada pelo complexo viral denominado Pineapple Mealybug Wilt-Associated Vírus (PMWaV), transmitido pela cochonilha Dysmicoccus brevipes. O complexo é formado por três espécies diferentes de vírus, mas que compartilham regiões do genoma que são muito parecidas. "A posição dos genes e até mesmo a sequência de alguns deles também são parecidas. Então, buscamos todas as sequências disponíveis até aquele momento e fizemos um alinhamento entre elas, colocando uma sequência embaixo da outra e buscamos regiões mais conservadas entre elas, ou seja, trechos do genoma em que as sequências fossem idênticas, ou com alguma variação pontual", detalha.


Fonte: Léa Cunha - Embrapa Mandioca e Fruticultura

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