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Conheça os tipos de depressão e seus riscos

O diagnóstico de depressão cresceu 40% durante a pandemia e os casos precisam de acompanhamento médico adequado

Por João Cerino em 13/09/2022 às 07:44:07

"Todas precisam de acompanhamento médico adequado pois, se não tratadas, essas doenças podem levar ao suicĂ­dio", afirmou o presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria-ABP, Antonio Geraldo da Silva. A campanha Setembro Amarelo, realizada anualmente neste mĂȘs pela ABP, chama a atenção sobre a depressão e os perigos que ela pode causar.

"Praticamente, todos os casos de suicĂ­dio são relacionados aos transtornos mentais, principalmente os não diagnosticados ou tratados incorretamente. Dessa forma, a maior parte dos episódios fatais poderia ter sido evitada com as informações corretas sobre saĂșde mental e doenças psiquiĂĄtricas".

O doutor Antonio Geraldo Silva esclareceu que, devido à sua alta prevalĂȘncia, a depressão é a doença mais associada ao suicĂ­dio. "Não só durante a campanha Setembro Amarelo, como em todos os meses, a ABP cumpre sua principal missão, que é disseminar conteĂșdos relevantes sobre saĂșde mental para a sociedade, atuando na conscientização da sua importância e na prevenção das doenças mentais".

RISCOS

Segundo informou o especialista, alguns fatores de risco podem levar uma pessoa à depressão. "Existem diversos fatores que podem ser considerados gatilhos e causam impacto no desenvolvimento de uma doença mental, como causas genéticas, que chamamos de genótipo e os fatores ambientais, os fenótipos. São duas caracterĂ­sticas que, quando combinadas, determinam se a pessoa desenvolverĂĄ ou não qualquer tipo de doença". Silva explicou que o ambiente no qual o indivĂ­duo estĂĄ inserido e seu comportamento também contribuem para o desenvolvimento de doenças mentais como, por exemplo, conflitos familiares, dificuldades financeiras, problemas no relacionamento, a influĂȘncia da mĂ­dia e das redes sociais. Essas situações podem ser fatores potencializadores para o surgimento de uma doença mental. "Sendo assim, isso também tem impacto no comportamento suicida", disse o psiquiatra.

Além dos fatores ambientais e genéticos, o presidente da ABP lembrou que outros fatores podem impedir o diagnóstico precoce das doenças mentais e, consequentemente, causar impacto na prevenção do suicĂ­dio, levando ao aumento de casos, como o estigma e o tabu relacionados ao assunto. "Esses são aspectos importantes que impactam negativamente nos portadores de doenças mentais e no comportamento suicida". "Praticamente, 100% das pessoas que tentam ou cometem suicĂ­dio tĂȘm alguma doença psiquiĂĄtrica, diagnosticada ou não. As doenças mais relacionadas ao suicĂ­dio, além da depressão, são transtorno bipolar, transtornos relacionados ao uso e abuso de ĂĄlcool e drogas, transtorno de personalidade e esquizofrenia.

Antonio Geraldo da Silva afirmou que a pessoa diagnosticada com depressão precisa ter uma rede de apoio de familiares ou amigos. "A famĂ­lia e os amigos são fundamentais na busca por ajuda e no apoio ao tratamento. Muitas vezes, são os primeiros a perceber que hĂĄ algo de diferente e apontar a necessidade de buscar auxĂ­lio psiquiĂĄtrico". Os sintomas depressivos variam de pessoa para pessoa, mas os mais comuns são tristeza, fadiga, distĂșrbios de sono, alterações no peso, baixa autoestima, perda de energia, dificuldade de concentração, redução de interesse em atividades anteriormente prazerosas e no contato com pessoas.

AUXÍLIO

É sempre bom ressaltar que somente um médico ou profissional da ĂĄrea de saĂșde pode diagnosticar corretamente a depressão. O presidente da ABP ressaltou que, uma vez que se nota prejuĂ­zo no comportamento do indivĂ­duo, ou seja, quando os sintomas começam a atrapalhar a vida da pessoa, é hora de buscar um psiquiatra para avaliar o quadro. "Ansiedade e tristeza são caracterĂ­sticas normais do ser humano mas, a partir do momento em que nos impedem de sair de casa, trabalhar, levar uma vida social ativa, nos relacionar com outras pessoas, devemos procurar auxĂ­lio".

Para ajudar uma pessoa depressiva, deve-se orientĂĄ-la a buscar cuidados, um tratamento especializado para a doença. "Se a pessoa tem sintomas depressivos, ela precisa e merece procurar ajuda com um médico psiquiatra, que vai indicar e oferecer o melhor tratamento possĂ­vel".

O médico lembrou também que os quadros depressivos precisam ser tratados com cuidado e urgĂȘncia. "Não podemos deixar a doença envelhecer. Se a pessoa estĂĄ mostrando que tem os sintomas, devemos ajudĂĄ-la a procurar um médico para fazer o diagnóstico, entender qual tipo de ajuda ela vai precisar e iniciar o tratamento imediatamente".

A pesquisa Vigitel Brasil, realizada em 2021 e publicada este ano pelo Ministério da SaĂșde, incluiu pela primeira vez a depressão. O levantamento mostrou que 11,3% dos cidadãos brasileiros receberam diagnóstico da doença, o que corresponde a cerca de 23 milhões de pessoas, quase o dobro do nĂșmero divulgado pela Organização Mundial da SaĂșde-OMS em 2019, que indicava a existĂȘncia de 12 milhões de brasileiros com depressão. Considerando que nem toda a população tem acesso aos serviços de saĂșde mental, Antonio Geraldo da Silva destacou que muitas pessoas podem viver com depressão sem conhecer o diagnóstico. "E isso é muito grave. Devido à alta prevalĂȘncia, a depressão é a doença mais associada ao suicĂ­dio", reiterou. A própria OMS considera que a depressão é a terceira doença mais incapacitante e, diante do envelhecimento da população e das mudanças globais, existem perspectivas de que serĂĄ a doença mais incapacitante até 2030.

JOVENS

A psiquiatra Janine Veiga disse que a depressão infantil é semelhante à do adulto e que os sintomas são iguais, em maior ou menor grau. A doença pode ocorrer, por exemplo, por predisposição genética; por traumas advindos de situações de abuso; por convĂ­vio familiar conflituoso; por eventos estressantes, entre outras razões. "Se não tratada a depressão, o jovem pode envolver-se com uso de drogas, apresentar dificuldade no relacionamento social e hĂĄ o risco de agravamento da doença, que pode até chegar ao suicĂ­dio", alertou. Janine recomendou que os pais devem ficar atentos a mudanças de comportamento dos filhos, como alteração do sono, padrão alimentar, irritabilidade, queda no rendimento escolar, choro fĂĄcil, desânimo, entre outros.

PANDEMIA

A psicóloga da Fundação São Francisco Xavier, Gabriela Pinheiro Reis, afirmou que as consequĂȘncias da pandemia de Covid-19 tĂȘm se revelado preocupantes para a saĂșde mental da população. O Relatório Mundial de SaĂșde Mental de 2022, divulgado pela OMS, revelou que apenas no primeiro ano da pandemia 53 milhões de pessoas desenvolveram depressão e 76 milhões tiveram ansiedade, com alta de 28% e 26% de incidĂȘncia desses transtornos, respectivamente.

De acordo com a OMS, o suicĂ­dio é a segunda principal causa de morte entre indivĂ­duos com idade entre 15 e 29 anos. "O suicĂ­dio é um tema sensĂ­vel e uma triste realidade na sociedade. A campanha Setembro Amarelo tem fundamental importância na conscientização sobre o assunto e na promoção da informação correta e, principalmente, para incentivar as pessoas que estejam passando por momentos difĂ­ceis a buscarem ajuda", comentou Gabriela.

Na avaliação da psicóloga, as doenças mentais precisam ser encaradas sem preconceito. "Não é frescura. Depressão, bipolaridade e ansiedade são doenças que devem ser diagnosticadas e tratadas o quanto antes".

CAMPANHA

A campanha Bem Me Quer, Bem Me Quero: Cuidar da Sua SaĂșde Mental é um ExercĂ­cio DiĂĄrio", realizada pela Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos-Abrata, visa conscientizar a população sobre depressão, ansiedade e prevenção ao suicĂ­dio por meio da valorização do autocuidado e do equilĂ­brio na rotina.

Para a associação, algumas atitudes podem fazer a diferença e contribuir para a saĂșde mental, como não ficar o tempo todo conectado na internet, estabelecer horĂĄrios, evitar bebidas cafeinadas em excesso e optar por uma alimentação equilibrada.

A presidente da Abrata, Marta Axthelm, chamou a atenção para o fato de que a autocobrança para dar conta de tantos papéis, principalmente no caso das mulheres, que são profissionais, mães, parceiras, amigas, no dia a dia, pode ser um gatilho para a depressão. "É essencial reduzir o tempo de acesso às redes sociais, principalmente no perĂ­odo da noite. No caso da depressão, a condição pode apresentar muito sono, mas tem o outro lado, que é a insônia".

Segundo Marta, a depressão costuma a apresentar sinais que não são percebidos pelo paciente, na maioria das vezes. No caso do suicĂ­dio, quem pensa em tirar a própria vida quase sempre dĂĄ sinais, mas boa parte das pessoas que estão ao seu redor não consegue identificĂĄ-los. "Por isso, o Setembro Amarelo é tão importante para debater esses temas. Mais uma vez, reforçamos nosso papel de promover iniciativas que despertam a conscientização do autocuidado em prol da saĂșde mental e que também estimulam a população a olhar ao redor para identificar que alguém próximo precisa de ajuda", concluiu a presidente da Abrata.

Fonte: AgĂȘncia Brasil

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