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Minas tem ampliado número de leitos de UTI, mas faltam médicos

O quadro insuficiente de médicos, enfermeiros e fisioterapeutas viria do baixo investimento dos governos na terapia intensiva

Por João Cerino em 03/04/2021 às 11:55:48

Governador tem dificuldade com recursos humanos

a rotina estressante das equipes da saúde no socorro às vítimas da pandemia continua e a falta de pessoas para operar equipamentos essenciais, como as unidades de terapia intensiva e outros equipamentos tem sido a preocupação do setor em Minas Gerais. O governador Romeu Zema se reuniu no início do mês com o presidente da Sociedade Mineira de Terapia Intensiva, Jorge Luiz Rocha Paranhos e chefes de unidades de terapia intensiva de Belo Horizonte para buscar uma solução para essa falta de profissionais, que agrava a crise dos leitos hospitalares.

A necessidade não se resume somente a médicos intensivistas, mas também há falta de enfermeiros e fisioterapeutas. A falta de profissionais na área médica vem desde o início da pandemia, contribuindo para o cansaço físico extremo dos servidores e adoecimento de quem está na linha de frente dos hospitais. Essa situação cria momentos em que há leitos disponíveis, inclusive equipados com respiradores e monitores, mas não há mãos suficientes para operá-los.

O governador Zema explica que conseguiu algumas contratações, mas o sistema de atendimento do país está na linha do colapso. "Não há mais profissionais de saúde disponíveis para trabalhar na linha de frente contra a Covid-19 no Brasil. Chegamos em um ponto no Brasil que não há mais médicos. Nós, inclusive, já fizemos chamamento, mas não há mais profissionais de saúde disponíveis."

Para os trabalhadores desta área, a escassez destes profissionais, especialmente no setor público, se deve aos baixos investimentos feitos pelos governos do país no setor da terapia intensiva e nas condições de trabalho. O problema vem desde os concursos públicos, passando pela burocracia, falta de iniciativa dos governos e elaboração de planos de carreiras e salários. Os médicos se queixam de sobrecarga de jornada, surgimento de distúrbios psicológicos, como depressão e síndrome de Burnout e nível de contaminação pelo coronavírus cinco vezes superior àquele da população em geral. A demora na vacinação também é um dos fatores que agrava essa crise, tanto no estado de Minas Gerais quanto no restante do país.

A média de ocupação de leitos em Minas Gerais está em torno de 95%, número extraído da soma entre a rede privada e a pública, isso considerando apenas as unidades para pacientes com Covid-19. Embora a taxa média de ocupação em UTI Covid esteja sofrendo algumas quedas, o número preocupa. A rede privada está mais saturada e, no SUS, a lotação está em uma média próxima de 92%. A maior preocupação da área de saúde é com a baixa capacidade do estado em casos graves de coronavírus, que exijam internação em Unidade de Terapia Intensiva-UTI. No início de março, apenas 69 municípios contam com UTI, com o total de 877 leitos disponíveis para todo o estado.

O presidente da Somiti-Sociedade Mineira de Terapia Intensiva, Jorge Luiz Paranhos, lembra que o governo estadual destinou recursos repassados pela União para os municípios comprarem ventiladores mecânicos e monitores, mas não houve a mesma eficiência em contratar os recursos humanos. "O que acontece é a falta de preocupação dos gestores em relação à terapia intensiva. A gente vem há muito tempo lutando. O Zema disse que ia resolver isso, mas não deu tempo. A epidemia veio antes", afirmou.

Paranhos deu como exemplo o hospital que dirige em São João del-Rei, na Região Central de Minas, que tem setenta anos, mas precisa contar com médicos jovens na equipe. "Não dou conta de vinte leitos. Só tenho dez, e, para ter vinte, coloquei dois médicos jovens junto comigo. Mas isso já se esgotou e não tenho mais médicos jovens para contratar. Temos editais de convocação com 20 vagas e aparecem duas pessoas. E, em muitos casos, não têm conhecimento científico para assumir leito nenhum."

O médico também lembra que não consegue contratar enfermeiros nem fonoaudiólogos, profissionais que compõem as equipes numa UTI. "Tenho leito, respirador, monitor, mas não tenho médico, enfermeiro e nem fonoaudiólogo. A falta de respiradores nunca foi um problema na cidade. "Tenho espaço físico e estrutura montada em hospital pequeno para uma cidade de cem mil habitantes, com cinquenta leitos de Covid, mas só tenho recursos humanos para vinte leitos", revela.

A situação é vista com receio pelo presidente do Sindicato dos Médicos de Minas Gerais, Fernando Luiz de Mendonça. "No caso específico dessa epidemia, que já completa um ano, desde o começo, o que a gente tem assistido é a um planejamento não muito adequado", diz. Para ele, a falta de médicos é resultado da inexistência de investimentos na formação e capacitação de profissionais. "Não temos um concurso público para preenchimento de vagas no estado há muitos anos. Pelo contrário, o que observamos é uma tentativa de desmonte das unidades hospitalares."

O presidente do Sinmed-MG reforça que não é a primeira vez que o governador alega falta de médicos para não ampliar o número de leitos. "No ano passado, também no meio do ano, por ocasião do pico daquela época, a justificativa para o não aumento de vagas era de que faltavam médicos. A crise da saúde pública é antiga. Jorge Luiz Paranhos, presidente da Somiti, debita o problema à gestão de Fernando Pimentel no governo de Minas Gerais. "Houve buraco de quatro anos desse último governo, que não investiu nada em saúde." Na avaliação dele, ainda não houve tempo hábil para o governador Romeu Zema mudar o cenário.





Fonte: Com informações de O Estado de Minas

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